Transição de carreira como migrante no Brasil: vale a pena mudar de profissão?

05/04/2024
• Atualizado em 19 de julho de 2024

A transição de carreira é um processo comum para pessoas migrantes e refugiadas. Muitos indivíduos deixam seus países de origem em busca de melhor qualidade de vida ou por conta de guerras e crises econômicas. 

Ao chegar em um novo país, grande parte dessas pessoas opta por mudar de profissão para se adaptar às demandas do mercado de trabalho. 

Apesar de desafiador, esse processo de transição de carreira pode trazer oportunidades de crescimento pessoal e profissional. 

Entretanto, é comum que haja dificuldade para iniciar o processo de mudança. Por isso, neste conteúdo, vamos trazer desafios, oportunidades e dicas para uma transição de carreira bem-sucedida. 

Desafios enfrentados por migrantes durante uma transição de carreira no Brasil

Mudar de carreira sendo migrante no Brasil pode trazer uma série de desafios e oportunidades. Neste tópico, falaremos sobre os desafios. 

Em primeiro lugar, é preciso ter consciência de que fazer uma transição de carreira

envolve aprender novas habilidades e conhecimentos específicos de uma nova área. 

Isso, por sua vez, pode exigir tempo e esforço extra para se atualizar e se qualificar para as demandas da nova função.

Ingressar em um novo setor de trabalho também pode significar lidar com diferentes culturas organizacionais, métodos de trabalho e colegas de equipe.

Outro grande desafio é a instabilidade financeira durante o processo de mudança. Pode-se enfrentar dificuldades para conseguir uma fonte de renda consistente enquanto tentam se estabelecer em uma nova profissão. 

É importante considerar esses desafios típicos de uma transição de carreira, juntamente com as circunstâncias adicionais enfrentadas por migrantes.

Por outro lado, só o fato de vir para o Brasil já implica em construir um networking do zero e lidar com outra língua. Se você teve resiliência para se adaptar a uma nova cultura, pode ter a determinação e capacidade necessárias para se reinventar profissionalmente. Só é preciso avaliar se realmente essa mudança vale a pena. 

Ao longo deste conteúdo, ajudaremos você nessa decisão. 

Oportunidades disponíveis para migrantes no mercado de trabalho brasileiro

No mercado de trabalho brasileiro, as possibilidades têm crescido. Os setores que mais buscam mão de obra qualificada são o de tecnologia, saúde e serviços.

Além disso, cada vez mais as empresas têm investido em programas de inclusão e diversidade, que acolhem pessoas de grupos minorizados, como mulheres, negros, refugiados e migrantes, comunidade LGBTQIAP+ e pessoas com deficiência. 

Dessa forma, cria-se mais oportunidades de emprego para pessoas migrantes e refugiadas.

Outra vantagem que pode destacar você durante um processo de transição de carreira é o fato de que muitas empresas buscam profissionais com vivência internacional e que falam outros idiomas além do português. 

Mudar de carreira também pode ser uma boa opção para migrantes formados em áreas com pouca demanda no mercado de trabalho brasileiro ou com alta concorrência. Dessa forma, é possível elevar o nível econômico e garantir mais estabilidade.

Além disso, no Brasil, existem organizações voltadas para a inserção profissional de migrantes e refugiados, como a Empresas com Refugiados, Refúgio 343 e Toti Diversidade

6 pontos que você precisa considerar sendo uma pessoa migrante

Confira os aspectos que devem ser considerados na decisão sobre realizar ou não uma transição de carreira.

Objetivos profissionais 

O primeiro passo é avaliar em qual área você gostaria de trabalhar. Você pode escolher dois ou três setores nos quais se sentiria bem em trabalhar. Afinal, é importante que o trabalho seja gratificante. 

Avalie também seus objetivos de vida e carreira. Isso inclui entender onde você deseja chegar daqui a cinco ou dez anos, quais conquistas profissionais e pessoais deseja alcançar e como o trabalho que escolher está alinhado com essas metas. 

Habilidades 

É necessário também analisar se as suas habilidades e competências atuais são transferíveis para uma nova carreira.

Caso não possua as competências necessárias, reflita se teria disposição para aprimorá-las.

Revalidação de diplomas

O processo de revalidação de diplomas é necessário para que uma graduação concluída no exterior tenha validade no Brasil. 

Dependendo da profissão, é possível trabalhar sem a revalidação do diploma, mas isso fica a critério da empresa. 

Em áreas regulamentadas como medicina, engenharia e direito, o procedimento é obrigatório.

Então, se você concluiu uma faculdade fora do Brasil, é preciso levar em consideração esse processo, que é um pouco burocrático. 

Caso não queira ou não tenha conseguido revalidar o diploma e esse seja um procedimento obrigatório para o seu setor de atuação, fazer uma transição de carreira pode ser uma alternativa para ingressar no mercado de trabalho. 

Perspectivas de emprego

Outro aspecto importante para decidir se você deve ou não fazer uma transição de carreira são as perspectivas de emprego da área atual e da desejada.

Para fazer essa avaliação, pesquise sobre as oportunidades do mercado, as tendências de trabalho, a estabilidade do setor e os salários. 

Na plataforma Glassdoor, por exemplo, é possível encontrar um breve panorama sobre determinadas profissões, sua remuneração e plano de carreira. 

Você também pode entrar em contato com profissionais da área de atuação pretendida pelo Linkedin e esclarecer possíveis dúvidas. 

Se a sua área de formação original está com pouca demanda e você já tentou se recolocar sem sucesso, pode ser o momento de considerar uma transição de carreira.

Recursos disponíveis

Identifique se dispõe de recursos disponíveis para apoiar sua transição de carreira. Isso engloba cursos livres, programas de capacitação e/ou mentoria.

A boa notícia é que existem formações profissionalizantes gratuitas para pessoas refugiadas e migrantes, como as que a Toti Diversidade oferece. Clique aqui para conferir.  

Planejamento financeiro

Cada caso de transição de carreira é diferente. Algumas pessoas preferem parar de trabalhar e se dedicar exclusivamente a esse processo, enquanto outros conciliam ambas atividades. 

Dependendo da sua situação econômica atual, caso opte por mudar de profissão, talvez você receba uma remuneração menor, pois provavelmente começará em cargos iniciais.

No entanto, é preciso considerar que grande parte das pessoas migrantes trabalha informalmente quando chega ao Brasil.

Nesse cenário, mesmo que iniciem uma nova carreira em posições juniores, é provável que ganhem mais, especialmente em áreas em expansão, como a tecnologia.

Nos dois casos, é recomendável ter um planejamento financeiro com uma reserva de emergência para garantir mais segurança durante a mudança de carreira. 

Da psicologia para a análise de dados: uma história real de um migrante que mudou de carreira no Brasil

Na foto, aparece Wendell Rojas, um migrante que fez uma transição de carreira no Brasil. Wendell é branco e venezuelano. Ele está sentado usando um notebook, que exibe um código de programação na tela.
Wendell fez uma transição de carreira com a ajuda da Toti

O venezuelano Wendell atuava como psicólogo em seu país de origem e sonhava em crescer na carreira.

No ano de 2019, devido a problemas políticos e econômicos, precisou deixar a Venezuela e embarcar em uma nova jornada no Brasil em busca de melhor qualidade de vida. 

Ao chegar ao Brasil, começou a trabalhar vendendo doces em ônibus. Wendell conta que pensou em seguir com a sua área de formação original — a psicologia, mas encontrou muitas dificuldades em entrar no mercado de trabalho. 

Ele conta que seus certificados não tinham validade no país. “Eu não poderia trabalhar na área clínica no Brasil”, diz. Wendell menciona que precisaria passar por procedimentos de revalidação para trabalhar com sua área de formação, o que era um desafio. 

“Eu consegui trabalho como RH, mas isso não era o que eu buscava”, complementa. 

Então, Wendell pensou em fazer uma transição de carreira. “Eu conheci mais a área tecnológica e isso me fez considerar os benefícios, como melhores oportunidades de emprego e crescimento”, comenta. 

Durante o processo de transição, ele conta que se sentiu inseguro diversas vezes. “Eu queria uma área melhor, mas eu tinha segurança como psicólogo porque eu já tinha estudado e tinha cinco anos de experiência”. 

Então, Wendell conta que duvidou de suas competências por muito tempo, até que um dia encontrou uma área que se apaixonou: a análise de dados. “Nesse momento, eu senti que o medo sumiu de mim”, revela. 

Com a contribuição da Toti Diversidade, Wendell conseguiu fazer sua transição de carreira. Para isso, estudou análise de dados na Toti e depois foi empregado por uma empresa parceira, o Hospital Israelita Albert Einstein. 

Hoje, está buscando se qualificar mais para se tornar Engenheiro de Dados. Ele conta ainda que mudar foi uma boa decisão. Um dos benefícios é possibilidade de trabalhar em casa e ter mais flexibilidade.  

Para aquelas pessoas que estão pensando em mudar de área, Wendell aconselha alinhar seus gostos pessoais com seu estilo de vida. Ele também recomenda considerar a área de tecnologia para uma transição de carreira, pois oferece um amplo leque de opções. 

Vantagens e desvantagens de fazer uma transição de carreira

Como toda grande mudança, a transição de carreira carrega pontos positivos e negativos. 

Portanto, antes de tomar essa decisão, é essencial avaliar com atenção alguns aspectos importantes. Caso resolva seguir com o processo de mudança, faça um planejamento detalhado para garantir uma transição leve e bem-sucedida. 

Confira, a seguir, as vantagens e desvantagens de mudar de carreira sendo migrante ou refugiado no Brasil. 

Vantagens

Oportunidade de desenvolvimento profissional

Ao buscar uma nova área de trabalho, é possível ir atrás de oportunidades melhores. Além disso, a troca pode contribuir para o desenvolvimento de novas habilidades. 

Potencial aumento de salário e benefícios

A baixa remuneração é um dos principais motivos pelos quais profissionais trocam de carreira. Ao buscar carreiras mais valorizadas no mercado de trabalho, é possível aumentar ganhos, benefícios e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida. 

As formações da Toti Diversidade, por exemplo, contribuíram para aumentar em cerca de 200% a renda média de pessoas migrantes e refugiadas. 

Recolocação profissional 

A dificuldade para ingressar no mercado de trabalho por meio de sua área de atuação faz com que muitas pessoas tentem novas possibilidades de carreira. 

Caso a área pretendida tenha boas perspectivas de crescimento, é possível se recolocar profissionalmente e conquistar estabilidade.  

Renovação do interesse pelo trabalho

Permanecer em uma área na qual você está infeliz pode resultar em desmotivação para procurar emprego. 

Por outro lado, fazer uma transição de carreira para um campo que desperta seu interesse pode renovar sua paixão pelo trabalho e proporcionar motivação para buscar novas oportunidades com entusiasmo.

Ampliação da rede de contatos

Ao ingressar em um novo setor, você tem a oportunidade de conhecer novos profissionais e fazer mais networking. 

Pessoas migrantes em um evento de networking posam para a foto.
Na imagem, há mulheres e homens com a mesma camisa, que exibe o seguinte texto: migração, diversidade e tecnologia.
Oportunidade de networking em um evento da Toti Diversidade

Desvantagens

Incerteza em relação ao sucesso da nova carreira

Uma das desvantagens da transição de carreira é a insegurança quanto ao sucesso da nova carreira. Afinal, é comum ter esse sentimento de incerteza ao realizar grandes mudanças. 

Será necessário lidar com a ansiedade para conseguir estabilidade na nova profissão. 

Exigência de tempo e esforço

A transição não acontece de um dia para o outro. É necessário compreender a nova área de atuação, desenvolver habilidades específicas e adquirir as qualificações necessárias.

Essa circunstância demanda tempo e dedicação, o que pode ser desafiador.

Desafios para construir uma reputação na nova área

Ao ingressar em um novo setor, é preciso construir uma reputação profissional do zero. Pode levar um tempo até você conseguir a experiência e a confiança de outros profissionais. 

Falta de experiência prática 

Caso a sua área atual não tenha correlação com o setor pretendido, será preciso adquirir bastante conhecimento e fazer networking para compensar a falta de experiência.

Isso pode envolver participar de cursos, workshops e eventos. Nesse cenário, também é válido procurar programas de capacitação que realmente preparem os estudantes para o dia a dia da profissão, como o da Toti Diversidade

Passo a passo para uma transição de carreira bem-sucedida no Brasil

1° passo: Autoavaliação

Identifique suas competências e experiências anteriores para encontrar novas áreas de interesse.

Analise quais são seus pontos fortes e quais habilidades precisam ser desenvolvidas para mudar de profissão.

2° passo: Capacitação profissional 

Busque formações profissionalizantes, treinamentos, cursos e workshops para desenvolver as competências necessárias para atuar na área pretendida. 

Caso esteja com poucos recursos financeiros, é possível começar realizando capacitações gratuitas. Instituições como Udemy, Sebrae, FGV e Fundação Bradesco oferecem cursos sem custo. 

Como mencionamos anteriormente, a Toti Diversidade também oferece Programas de Carreira gratuitos para pessoas refugiadas e migrantes. 

3° passo: Freelas ou trabalhos voluntários 

Considere atuar como freelancer ou realizar trabalhos voluntários para adquirir experiência profissional. Com esse tipo de atividade, você pode ampliar seu portfólio e desenvolver habilidades relevantes. 

Além disso, a experiência prática é extremamente valorizada no mercado de trabalho. 

4° passo: Portfólio

Tenha um portfólio com trabalhos realizados para demonstrar suas habilidades. Neste material, é possível incluir projetos voluntários, acadêmicos ou pessoais.

Dica: você também pode realizar projetos por conta própria para testar seus conhecimentos e incluí-los no material.

5° passo: Atualização do currículo

Atualize seu currículo com base na área pretendida. Desenvolva um documento que mostre qualificações aderentes ao novo setor. 

Confira algumas dicas para a elaboração do seu novo currículo:

1) Inclua dados pessoais, como nome, cidade em que mora, e-mail e telefone;

2) Insira o cargo e área que pretende se candidatar no espaço de “Objetivo”;

3) Informe sua formação acadêmica;

4) Enfatize as experiências profissionais da sua área atual que tenham a mínima correlação com a área pretendida;

5) Inclua formações, eventos e workshops que participou;

6) Informe os idiomas que você domina e o seu nível de fluência;

7) Customize seu currículo de acordo com cada vaga, procurando inserir as mesmas palavras-chave que constam na descrição do cargo

Neste link, você encontrará mais dicas para desenvolver o seu currículo e encontrar uma oportunidade profissional. 

6° passo: Atualização do Linkedin

Preencha todos os campos de cadastro, como resumo, experiências, formações acadêmicas, entre outros. A atualização do Linkedin é extremamente importante para uma recolocação profissional. Isso porque a maioria dos recrutadores checam o Linkedin da pessoa candidata. 

Solicite recomendações de colegas de trabalho ou estudos que possam reforçar sua credibilidade profissional. 

Outro ponto importante é a interação. Quanto mais ativo você estiver no Linkedin, mais o seu perfil será mostrado para recrutadores. Portanto, crie conteúdo, curta postagens, faça comentários e converse com pessoas da sua rede. 

Com essas dicas, você conseguirá elaborar um bom perfil no Linkedin

7° passo: Networking

Construa uma rede de contatos que possa atestar suas competências e indicar você para vagas de emprego. 

Confira algumas sugestões de como fazer um bom networking:

  • Participe de grupos e associações profissionais da sua área de interesse. Dessa forma, você terá um ambiente para conhecer novas pessoas, compartilhar experiências e aprender com outros profissionais.
  • Use as redes sociais corporativas, como o LinkedIn. Por meio dessa plataforma, é possível interagir com profissionais de diversas empresas e, assim, construir sua rede de contatos. Seja proativo, compartilhe conteúdos e interaja com outros membros. 
  • Participe de eventos do setor, como conferências, palestras e workshops.
  • Faça trabalhos voluntários. Com essa atividade, além de conquistar experiência prática, você desenvolve conexões profissionais. 
  • Esteja aberto a oportunidades informais. Participe de encontros sociais, eventos culturais e atividades recreativas. Conhecer pessoas fora do ambiente de trabalho formal pode levar a conexões valiosas e oportunidades de carreira inesperadas.

8° passo:  Mentoria especializada

Faça mentorias com pessoas experientes na área para obter orientações, esclarecer dúvidas e receber apoio. 

Considere também realizar uma mentoria com um profissional especializado em recolocação profissional. Assim, você receberá conselhos sobre como se posicionar em entrevistas de emprego e se destacar no mercado de trabalho. 

Com uma breve pesquisa no Google e no Linkedin, é possível encontrar mentorias pagas e gratuitas. Existem capacitações que também oferecem mentorias. 

Caso não consiga realizar esse tipo de atividade, converse com pessoas da área pretendida pelo próprio Linkedin. Muitas delas estão dispostas a esclarecer dúvidas e oferecer orientações valiosas.

9° passo: Plataformas de vagas de emprego

Cadastre-se em plataformas de emprego, como Vagas.com, Catho, Infojobs, Indeed, Sólides e 99jobs

Confira constantemente vagas publicadas nessas plataformas para se candidatar ou para analisar as habilidades que as empresas estão solicitando. 

No Linkedin, você também encontrará diversas vagas abertas. 

10° passo: Leis e cultura organizacional

Pesquise sobre as leis trabalhistas brasileiras para conhecer os seus direitos. Isso inclui aspectos como jornada de trabalho, remuneração, benefícios, entre outros. 

Além disso, é importante entender a cultura organizacional da empresa em que você pretende trabalhar, pois ela influencia diretamente o ambiente de trabalho, as relações interpessoais e as políticas internas da organização.

11° passo: Determinação e persistência

Esteja preparado para enfrentar desafios. Tenha paciência e tente manter uma atitude positiva durante o processo. 

Com persistência e dedicação, é possível conquistar suas novas metas.

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